06 março 2020

Aluvião de Uirapurus



O Uirapuru me apazigua
quando ouço o assobio noturno da Rasga-mortalha.
Ele toma água pura da bica
e liga o desfibrilador.
Esclarece a transição,
o purgatório que precisamos trilhar.
Ensina ao enxadrista uma nova estratégia.
E eu, eu não deixo de ser passarinho no verão,
enquanto o inverno é tudo que eles passarão,
antes de voltar ao rez-de-chaussée
e àquele velho mimetismo.

05 janeiro 2020

Reconvenção


Que ultraje o vento
lamber as roupas do varal,
lamber-me até o pau,
os ossos,
os dentes.
Acha que a viuvez afeiçoou-me ao frio que carrega.
Eu o fiz frio.

Fiz-me criador na própria redoma.