06 dezembro 2015

HÁ UM MAR DENTRE MEUS BRAÇOS


HÁ UM MAR DENTRE MEUS BRAÇOS

A verdade está aqui nos meus braços,
então pule e mergulhe.
Pule nesse Nosso oceano – eu costumo dividir meu infinito.
Você poderá ver para crer.
Nem toda água-viva deixa estragos tão grandes assim;
que eu não sei amar pela metade;
que prefiro queimar a me apagar aos poucos;
que prefiro exclamações a reticências!
Soçobrar é meu dom.
Minha boca é de mar,
meus gestos são de mar.
Eu sou aquele que gosta do mergulho
na zona abissal dos seus olhos,
onde ninguém ousa ir.
Aquele que mergulha na sua alma de leite e piche.
Sendo assim, não adianta correr,
porque eu sempre serei
a sua fita zebrada,
a repressão da sua pseudoanarquia,
a sua varinha de condão que enfeita estrelas-do-mar e cavalos-marinhos.
Aquele que sabe suportar o peso da distância das suas mãos,
todavia, invariavelmente, respeita, segue,
como sombra apaixonada por um único clarão.

29 agosto 2015

Ostensiva ostentação


Amor é luxo,
é ostentação,
embora seja marca invisível que queima a pele,
no seu semblante
é possível ver que já caiu nessa armadilha.
É despesa de suor, tempo e lágrimas,
que eu não sei se preciso

e se posso arcar com...

18 junho 2015

Não vingou


O nosso amor estava fadado a ser solo estéril
Então por que nos assustamos quando a árvore secou?
O amor é tão dúbio que a mesma rosa que te prova afeição

Poderia estar também no cemitério

03 abril 2015

Inutilidades

Corações que não batem
Braços que não abraçam
Passos que não têm destino
Músicas que não tocam
Sóis que não brilham
Ventos que não espalham pólen
Há um mar de inutilidades entre nós
Não há porvir
Não há esperança por servir

Há um mar de quinquilharias e um mundo que não desatou nossos nós

10 março 2015

Problemas no paraíso (Ou O enterramento precoce do amor)


Podemos asseverar, sem hesitação, que nenhum acontecimento é tão horrivelmente capaz de inspirar o supremo desespero do corpo e do espírito como ser enterrado vivo. A insuportável opressão dos pulmões, os vapores sufocantes da terra úmida, o contato nos ornamentos fúnebres, o rígido aperto das tábuas do caixão, o negror da noite absoluta, o silêncio como um mar que nos afoga, a invisível, porém sensível, presença do Verme Conquistador (...)

Edgar Allan Poe in O enterramento prematuro


Lembre-se do sol,
Lembre-se da chuva

Eles nunca irão tocar-me de novo esta noite

Cubra meus olhos de novo esta noite

Não me deixe ver a luz

The Birthday Massacre in Cover my eyes


Problemas no paraíso (Ou O enterramento precoce do amor)

Era verão,
manhã quente e clara.
Abriste as cortinas e trouxeste-me café na cama e girassóis.
Estar contigo era experimentar uma felicidade rara...

Chegou o inverno estraga-prazeres.
Todavia, nós nos aquecemos,
nós nos divertimos na chuva
e nós nos protegemos.

E quando o inverno chegou ao final,
vi-te com pás e correntes pela casa a arrastar.
Apenas senti um golpe na cabeça
e a-cor-dei den-tro de um cai-xão, qua-se sem con-se-guir res-pi...

Tiago Quingosta

29 janeiro 2015

Valsa das nuvens



Nada se compara ao nosso amor de auroras austrais
De gotas de chuvas musicais
De passarelas de nuvens de algodão
De flores raras balançando ao chão
De estradas de ouro e castelos de cristal
De estrelas bailarinas cantando em perpétuo natal
De valsas divertidas
De múltiplas luas estarrecidas
De bichos que mancham tudo de cores quando se sacodem
De supernovas que o espaço iluminem

Ninguém foi ao espaço sem espaçonaves até começarmos
Ninguém foi ao fundo do mar sem escafandro até começarmos

Nada se compara aos nossos passos harmônicos em valsas de Tchaikovsky
Às nossas carícias trocadas enquanto ninguém observa por conta do whisky
Nada se compara ao sol que não dói
Sobre a cúpula do quarto alumia um palácio de nuvem que todo dia se constrói